num recanto do sótão
acharão um baú velho de mogno
com o modesto saldo dos meus bens:
meu legado de trastes
isento de tributos.
Nunca guardei por mais de uma semana
cartas de amor,
postais marcando ausências,
números telefônicos,
fotografias.
Não acharão nenhum amor-perfeito
entre as vetustas páginas de um livro
nem guardanapos sujos de poemas.
No meio dos objetos já sem uso
está um par de sapatos de verniz
que levavam meus pés para encontrar-te
(ninguém há de notar que eram asas);
algumas jóias falsas, reluzentes,
como os meus olhos sempre que eu te via;
roupas fora de moda
onde ninguém verá
– porque não são visíveis as lembranças –
no meu vestido a mancha dos teus braços.
- Rafaela Pinto –
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