Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria entrar,
coração ante coração, inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando
Eu queria até mesmo saber ver,
e num movimento redondo como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.
Eu queria (só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.
Eu queria apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.
Eu queria captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio
Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.
Ana Cristina Cesar
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